Em
25 de março de 1884, exatos 129 anos atrás, o Ceará foi a primeira
província brasileira a extinguir o sistema escravista em seu território,
fato que lhe rendeu o título de "Terra da Luz", dado por José do
Patrocínio, um dos maiores jornalistas do abolicionismo brasileiro. Até
mesmo Victor Hugo, celebrado poeta francês, enviou da França as suas
saudações aos cearenses.
A
abolição da escravatura no Ceará ocorreu 4 anos antes da assinatura da
Lei Áurea pela Princesa Isabel, que em 13 de maio de 1888 determinou a
emancipação dos escravos em todo Brasil.
É
importante lembrar, que em termos de marcos históricos, foi a cidade de
Acarape (atual Redenção) o primeiro núcleo urbano do Brasil a abolir a
escravidão, em 1º de janeiro de 1883. Fortaleza faria o mesmo em 24 de
maio do mesmo ano.
O
pioneirismo do Ceará inflamou em todo território nacional o movimento
abolicionista, incentivando várias outras províncias a seguirem seu
exemplo e abolirem o regime escravocrata, porém, o fato da província
cearense ter sido a precursora na abolição se deu devido a importantes
fatores, sobretudo os de cunho sociais e econômicos:
A
ânsia por liberdade, sentimento comum a todos os escravos, não só no
Ceará, mas em todo Brasil, que os impulsionou a não aceitarem
resignadamente a subjugação, além do surgimento de diversas entidades
abolicionistas, formada por intelectuais, estudantes, pessoas de todas
as classes da sociedade, comerciantes e, inclusive, com apoio do próprio
poder oficial.
Membros da Associação Libertadora Cearense
FOTO: www.fortalezanobre.blogspot.com
Aliado
a esses fatores, há que se considerar ainda, o pouco peso do negro na
economia local, pois a estrutura produtiva local, fundada especialmente
na pecuária, não absorvia a mão de obra em grande escala, como o fazia
as províncias produtoras de cana de açúcar e café.
Além
disso, havia ainda as intempéries do clima cearense, que ocasionalmente
fustigava a terra com longos períodos de seca, tornando os escravos uma
sobrecarga de despesas aos senhores de engenho, que os vendiam para
outras províncias ou simplesmente os libertavam, abandonando-os a
própria sorte.
A
escravidão e as privações que os negros enfrentaram não desapareceram
de um dia para o outro, mas sim vem diminuindo gradativamente ao longo
dos anos, fruto de muita luta e longas batalhas.
As
consequências da escravidão repercutem até os dias de hoje, prova disso
são os constantes casos de discriminação racial, os altos índices de
violência envolvendo a população negra, a dificuldade de acesso à
educação, dentre outros.
A
escravidão é um triste capítulo em nossa história, mas é a partir dos
nossos erros que podemos nos corrigir e evoluir. Além disso, foi das
amarguras da escravidão que nossa preciosa capoeira, além de ter forjado
grandes homens, verdadeiros exemplos a serem seguidos e que nos
inspiram até hoje.
Pensar no abolicionismo cearense é lembrar obrigatoriamente de duas grandes personalidades:
FOTO: www.portalcanoaquebrada.com.br
Francisco José do Nascimento: mais
conhecido como Chico da Matilde ou Dragão do Mar - símbolo da
resistência popular contra a escravidão, Chico da Matilde, homem pardo
de origem humilde, liderou um movimento junto com seus colegas
jangadeiros, recusando-se a transportar as embarcações ancoradas no
porto de Fortaleza escravos que haviam sido vendidos para as províncias
do sul. Com essa atitude, tornou-se impossível embarcar ou desembarcar
escravos na província do Ceará, fato que acirrou o movimento
abolicionista local.
João Cordeiro
FOTO: www.nacaofortaleza.com
João Cordeiro -
principal líder do movimento abolicionista no Ceará, foi o fundador da
Sociedade Cearense Libertadora e do jornal "Libertador" que propagava os
interesses do movimento abolicionista cearense. Defensor da República,
foi Vice Governador do Ceará, chegando a ser eleito como Deputado
Federal e Senador.
CURIOSIDADE!
Em
25 de março é também uma data importante no Reino Unido, pois em 1807
foi aprovado o Ato Contra o Comércio de Escravos, que aboliu o tráfico
negreiro no Império Britânico.
Os
britânicos começaram uma campanha contra o tráfico de escravos junto a
várias outras nações e declararam que qualquer navio transportando
escravos seria considerado pirata e sujeitos a serem destruídos e seus
tripulantes capturados e sujeitos a execução.
FONTE: Blog Mucambo Pra Valer